quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Ontem a noite. A noite tava fria. Tudo queimava, mas nada aquecia. Bixo, ontem rio preto fez frio. Ventava e tudo mais. Cheguei em casa quase morto. Congelado. Por dentro e por fora. Foi sinistro. Estranho. Ruim. Estava seco. Parecia planta no deserto. Fiz regime e perdi 20kg em uma noite. Não sei se foi a armadura que eu tirei ou se foi a falta de vida. Se for a vida, hoje eu devo ter perdido uns 15kg pelo menos. Daqui a pouco eu vou sumir, ai sim, nem existirei mais. Hahahaha. Será estranho. Ae, no caminho de casa tem aquele muro. Aquele mesmo que eu treinei escalada. O teu era muito alto e eu precisa treinar antes. Mas do nada, ele estava no chão. Sem motivo aparente, demoliram-no. Sorte que eu lembrei que ai perto tem uma arvore. E aqui perto tambem tem, logo, treinarei nela. Lembra daquele cachorro que latia toda vez que eu cruzava aquele portão na esquina de casa? Pois é. Acho que o dono mudou e levou ele. Ontem tambem. Tudo mudou aqui perto. Lembra daquele segurança que passava apitando? Pois é. Até ele não estava lá. Sei lá. Acho que não foi trabalhar. Ontem não tinha lua. Não tinha morcego. Não tinha andarilho. Não tinha movimento na rodovia. O boteco estava vazio. Ninguem esperava o onibus no ponto. O moto-taxi estava durmindo. A luz do poste apagada e as folhas não frequentavam o chão. Parece que a noite não existiu. Não como os outros dias. E se existiu, eu não percebi. Ou fingi não perceber. Sei lá. Estava frio e tudo que eu mais queria era sentir aquele vento. Aquela brisa gelada. Aquela falta de calor que a muito tempo não sentia. Não sei porque, mas rio preto ontem realmente estava fria. Fria e mórbida. Nada parecia querer cruzar meu caminho. Cheguei a pensar que o frio estava me fazendo esquecer o caminho de casa. Tudo estava mudado. Se horas antes eu corri pra chegar logo, eu fui embora tão lentamente que o sol quase raiava e eu ainda não estava em casa. Não sei se parei em algum lugar. Não percebi que ao invés de cortar caminho, eu dei uma volta gigante. Não lembro se eu peguei carona com alguem e fui dar uma volta. Não lembro se a hora que eu cheguei em casa percebi que havia esquecido a chave, por isso não entrei. Não vi se o frio me congelou. Não vi se fiquei procurando a lua. Não vi se fiquei procurando a casa do cachorro. Não vi se tentei levantar aquele muro. Não vi se fiz o serviço do segurança e sai por ai, apitando. Não vi nada. Ontem a noite eu não vivi. Não mesmo. Não cheguei cansado. Não cheguei. Só sei que a hora que eu consegui abrir o portão do prédio, a luz acabou e eu não achei a porta do bloco. Só lembro que a hora que o jornaleiro tacou o jornal pra dentro eu despertei e interfonei em casa. Minha mãe atendeu. Pedi pra ela abrir a porta pra mim. Mas mesmo assim ainda não subi. Fiquei uns 45 minutos la em baixo. Vendo o sol querer esquentar. Os passaros tentando dar seus primeiros acordes. Vi tambem o vento derrubar a primeira folha do dia. Vi aquele senhos varrer a calçada de pijama ainda. Vi o padeiro. Vi o carroceiro. Ouvi o barulho do carro de lixo. Ouvi a primeira risada do dia. Ouvi a primeira conversa. Era tarde. Ou melhor, cedo. Estava quase claro. Não estava cansado e nem com frio mais. Mas mesmo assim resolvi subir. Minha mãe me esperava na porta. Não soube o que dizer a ela mas disse que estava tudo bem. Entrei. Sentei e comi algo. Fui tomar banho. Deitei e dormi. 50min. O despertador tocou. Acordei e continuei sem ouvir nada. Sem falar nada. Sem ver nada. Parece que minha mãe mudou o sofá de lugar. Não lembro como estava antes, mas a hora que acordei, estava diferente. Eu tenho certeza. Meu pai disse que comprou o pão na mesma padaria de sempre, mas, o gosto dele, estava diferente. Meu irmão não fez nenhuma piadinha do tipo: "ae vamo embora caco". Minha cadela não levantou. E a agua do café não ferveu. Eu pelo menos não vi. Não vi nada. Sai calado e cheguei onde deveria calado. Hoje, dia 29, foi assim. Eu não vivi. Não mesmo. Não lembrarei desse dia concerteza. Agora, esta noite já. E eu daqui a pouco repetirei o mesmo trajeto. Espero encontrar tudo como estava antes. Espero sair daqui correndo. Espero digitar o alarme sem errar. Espero chegar em casa e encontrar um prato de comida ao inves de pão e leite. Espero chegar cedo hoje e dormir. Apenas isso. Se amanha a vida insistir em não acontecer, ai volto a ouvir a velha canção. Volto a subir a lomba correndo. Volto a tentar arrumar as coisas. Pois ontem, eu estraguei demais. É isso ai. Um dia a menos. Ou um dia a mais. Fico por aqui. Vou ali fora ver se esta frio. Ver se vai chover. Ver como esta o resto do mundo. Obrigado. Desculpa. Vai la dia 29. Valeu presidente. Até mais. Tchau.
Assinar:
Postar comentários (Atom)

Nenhum comentário:
Postar um comentário